A Poesia das Quatro Estações
- Editora Xará
- 14 de jan.
- 3 min de leitura
Das Quatro Estações de Sandy & Junior aos Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, as mudanças cíclicas da natureza motivam artistas de diferentes épocas, linguagens e lugares.
Neste post, veremos alguns exemplos curiosos dessa relação entre a Arte e as estações do ano.
Entre os autores mais tradicionais de haicai – forma poética de origem japonesa bastante difundida no Brasil – existe o conceito de kigo. Trata-se de uma palavra ou expressão que sugere a estação do ano em que o poema foi escrito, ou a qual se refere.
Masuda Goga e Teruko Oda, ao publicarem o livro Natureza: o berço do haicai, deram início à documentação de uma kigologia brasileira. A dupla observou a natureza e o calendário nacionais, listando palavras e expressões que pudessem funcionar aqui, em língua portuguesa, assim como os kigos funcionam na poesia japonesa. Afinal, a maneira como as estações do ano se apresentam muda muito entre um país e outro!
Além disso, para os haijins – escritores de haicai –, as estações também indicam certo tipo de inclinação sentimental. É como se cada período do ano tivesse a sua própria “vibe” ou “atmosfera”.
Apesar de não ser um livro de haicais, A Vida em Estações, de Letti, tem uma premissa bastante parecida. A autora acredita que nossas vidas também são cíclicas, variando em estações pessoais. Na apresentação do livro de poesia, ela escreve:
“Apesar de tudo o que diz a modernidade, gosto de pensar que ainda somos parte da terra e que mesmo nem sempre percebendo, também vivemos seus floreios e suas intempéries. Também temos nossas estações”.
Por isso, o livro de poemas de Letti está dividido em quatro partes – cada uma delas correspondendo a uma estação da vida e do ano.
“Talvez eu plante uma semente
Pra colher mais tarde
Internamente”
A Vida em Estações, Letti
2024, Editora Xará
A escritora Suellen Carvalho também dividiu um projeto de acordo com as estações. No caso dela, trata-se de uma coleção de plaquetes de poesia: Estações em Nós.
As duas primeiras publicações – Nós de Outono e Abraços de Inverno – foram lançadas em 2024, e as plaquetes que dialogam com a primavera e o verão estão em processo de escrita.
Sobre os poemas de outono, Suellen escreve que eles trazem “a sensação de um viver na espera, uma transição (...), como o ato de conhecer um território. há cautela, há medo e há ansiedade, mas, mesmo assim, se vive”.
Já os poemas de inverno, nas palavras da escritora, carregam tensões próprias do processo de autoconhecimento, em que “tudo parece meio incerto, e isso pode ser assustador – inclusive o ato de se olhar no espelho”.
Nas artes visuais, outro artista contemporâneo que dialoga com as estações do ano é o britânico David Hockney. Por muitos meses, e usando câmeras acopladas em um jipe, o artista e sua equipe percorreram a mesma estrada. O resultado do projeto é um conjunto de quatro montagens – cada uma delas com nove vídeos sincronizados.
A obra, chamada The Four Seasons, costuma ser apresentada em uma sala única, com cada vídeo-colagem cobrindo uma parede, resultando em um ambiente imersivo que sintetiza primavera, verão, outono e inverno.
Seria impossível listar todas as ocasiões em que artistas encontraram inspiração nas estações do ano, por isso vamos encerrar o post aqui. E, como começamos com música, terminaremos com ela também.
Aí vai um vídeo com a sequência de concertos Le Quattro Stagioni, de Vivaldi:
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